
Certas situações não fazem sentido.
Certas situações são tão estranhas...
Lembro-me que a minha primeira professora de piano
me mostrou pela primeira vez este instrumento por dentro.
E isso faz sentido: a primeira professora, apresentando pela
primeira vez um piano em sua "intimidade".
Naquela época eu não entendi como aquilo funcionava,
mas fiquei impressionada com aquele
aparato todo que produzia som.
Confesso que até hoje o interior de um piano me fascina.
E a atitude de minha professora foi tão importante pra mim
que até hoje quando tenho a oportunidade de reproduzir
o comportamento dela eu o faço, apresento a "intimidade"
de um piano pra alguém e me sinto muito bem porque considero
ter contribuido pra cultura de outrem,
assim como ela contribuiu para a minha.
Ocorre que em muitas outras situações eu me sinto
como que "apresentada" a algo inusitado.
Ou melhor, as situações se apresentam pra nós
de maneira tão surpreendente que a gente nem crê
que determinadas coisas poderiam acontecer de fato.
E isso causa estranheza.
E, em especial, muitas vezes o que mais
me causa estranheza é me deparar com o meu próprio interior.
Nessas ocasiões tenho a sensação que alguém
abre "a porta" do "meu piano" e apresenta
o meu interior de forma invasiva
e aponta para aquele aparato, o meu eu,
e tenta explicar o "meu funcionamento",
o meu jeito tão peculiar de processar as coisas.
E, como eu, diante do interior do piano,
nem todo mundo entende a princípio
como é que eu vivo,
quais são os meus sonhos,
a minha forma particular de produzir
a minha "sinfonia", "aquela" cujo título é "VIDA",
a minha vida.
Aline