quinta-feira, 10 de maio de 2007

Minha habitação...


Enfim, uma postagem. Depois de tanto tempo.
Às vezes é muito difícil escrever. Outras vezes é tão fácil e necessário.
A figura que escolhi pra ilustrar a postagem é uma casa.
Crianças gostam de desenhar casas.
Talvez porque uma "casa" signifique o lugar de nossa habitação.
E não há nada que se conheça mais do que "a sua casa".
E por isso, talvez, elas desenhem casas com tanta naturalidade.
Não falo no sentido de morada, habitação no sentido de estrutura,
com paredes, janelas, portas.
Falo no sentido da nossa habitação interior.
Essa casa onde habita o nosso ser.
Esse lugar que abriga nossos pensamentos mais íntimos.
E pensando nesse sentido, imagino que uma das razões
que pode justificar a dificuldade que encontro, às vezes, de escrever
é que as portas desta casa em que habito estão fechadas.
Fechadas para que não saiam as palavras, as idéias, certas emoções
que não são conhecidas por mim mesma de maneira clara.

Nos últimos tempos tenho pensado muito em "morte".
Perdi alguns amigos neste ano.
Faço 30 anos em alguns dias.
E a vida, nessa altura, já coleciona tantas perdas.
Estes dias conheci uma pessoa que me enviou o seguinte poema:


"Solidão"

A maior solidão é a do ser que não ama.
A maior solidão é a dor do ser que se ausenta,
Que se defende, que se fecha,
Que se recusa a participar da vida humana.
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo,
No absoluto de si mesmo,
O que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor,
De amizade, de socorro.
O maior solitário é o que tem medo de amar,
O que tem medo de ferir e ferir-se,
O ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo.
Esse queima como uma lâmpada triste,
Cujo reflexo entristece também tudo em torno.
Ele é a angústia do mundo que o reflete.
Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção,
As que são o patrimônio de todos, e,
Encerrado em seu duro privilégio,
Semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.

(Vinicius de Moraes)

Eu entendi o motivo pelo qual esse poema me foi enviado.
O pior foi que eu entendi.

Mas a vida é tão difícil de ser vivida.
As pessoas verdadeiramente morrem.
As pessoas realmente desistem.
As coisas realmente podem não dar certo.

Eu sei que devemos crer nos outros 50% de chances que existem
de que a vida não seja tão difícil,
de que muitos queridos terão vida longa,
de que muitos não desistirão de nós,
de que as coisas podem verdadeiramente dar certo.

Eu quero que a minha casa seja florida.
Seja casa de esperança, com portas abertas,
para pássaros curiosos que com pequenos pulinhos
adentrem as minhas salas trazendo canto.
Que minhas janelas estejam abertas
pra "luz do céu entrar".

Quero uma casa com pessoas ansiosas nas janelas esperando
outras pessoas queridas que irão chegar.

E que essas pessoas queridas em dias frios
se aconcheguem umas às outras pra se aquecerem,
e pra falar de histórias vividas,
lembranças compartilhadas nessas difentes "casas",
nessas habitações onde existem placas de entrada:

"Aqui mora gente feliz".

Não me entenda mal.
Não sou ingrata.
A vida me dá muita coisa boa.
Muitas histórias felizes pra contar.
Mas é que eu tô com tanto medo de viver.
Medo de deixar as portas abertas.

Aline

Um comentário:

Anônimo disse...

Aline, não deixa mesmo as janelas fechadas.
Porque se deixar fechadas, não vai conseguir ver TUDO que ainda pode acontecer, tudo q vai acontecer.
Q bom q voltou a postar!
Amo teeee
Bjux