quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Vou dormir...


"Gente, eu vou dormir!"
Acabei de dizer isso pra mim mesma.
Solitária. Mas dizendo pra mim mesma,
"Gente, vou dormir", pareceu que dizia pra
um montão de gente, que, nas minhas análises,
pra amenizar a solidão, parecem habitar o meu "eu" só.

Engraçado, eu vivo fazendo isso comigo mesma.
Pareço falar e trocar idéias comigo mesma.
Essa "Aline", a outra, que, às vezes, eu sinto que nem sou eu.
Essa outra, por vezes, me aconselha.
Ou, em certas circunstâncias, me chama à realidade.
E com ela converso.
Com ela eu choro.
Com ela dou risada.
Com ela compartilho sonhos.
Pra ela faço perguntas: "entendeu, Aline?"
Com ela faço tratos (alguns eu cumpro
e os que não cumpro, com essa "Aline",
eu tenho a liberdade de deixar "furos"
e ser sincera pra admitir: "não deu"!
Essa "Aline" tem sido a minha companheira,
porque ela anda comigo, vive comigo, não me abandona
e é por isso que convém sermos amigas. Melhores amigas.
Às vezes a gente briga. Eu quero sabotá-la e ela quer me trair.
Falamos verdades que deveriam ser ditas, mesmo que magoem.
Mas a gente se ajuda, reforçando a fé uma da outra
quando esta fraqueja.

Mas, voltando ao início,
convidei à Aline que mora em mim pra ir dormir.
Dormir!
Essa é uma das coisas que mais gosto
(ou que gostamos).
Djavan adverte, em uma de suas composições,
que devemos lembrar "que o sono é sagrado
e alimenta de horizontes o tempo acordado de viver".
E eu tenho necessidade de dormir.
Dormindo me ausento do mundo e viajo.
"Viajo sonhando" pra lugares que quero ir ou não,
recrio o dia, às vezes tenho visitas desejadas,
outras vezes não.

Dormi muito nas minhas férias.
Precisei dormir.
Estava cansada. Exausta.

Durante a minha infância, uma das coisas que me marcaram
era o fato de que a minha mãe me colocava pra dormir.
Ela segurava a minha mão e eu pedia que ela dormisse comigo.
Mas, me lembro bem que, quando o sono começava a chegar,
e eu naturalmente perdia a força pra manter a mão dela,
ela ia retirando a mão da minha
mãozinha de criança, devagarinho...

Até hoje, depois de adulta,
eu sonho, durante aquele primeiro soninho,
(aquele sono que, às vezes, a gente sente que o corpo vai cair
da cama sem que ele se movimente),
com a mão da minha mãe indo embora.
Uma mão imaginária que ainda segura a minha.
A mão da minha segurança.
A mão da minha mãe.

Essa "minha" mãe, que nem quebra cabeças,
tem várias "partes" dentre as quais destaco:
uma mão importante, uma voz que cantava pra mim
nos momentos de aflição
e que me abençoava quando eu, diante dos desafios,
pedia a benção dela.

Aos dois anos cortei o dedo.
Meus pais me levaram ao médico
que segurou o dedinho pra suturar.
Na hora da angústia, pedi pra ela:
_ Canta, mãe, canta rápido!
E o médico, talvez tão aflito quanto eu, reforçou:
_ Canta, mãe, canta rápido pra ela!
E quando ela cantava eu ficava mais calma.

Foram muitas as ocasiões que, durante a faculdade,
antes de uma prova, eu ligava pra casa e pedia:
_ Abençoa, mãe!
E ela prontamente dizia:
_ Deus te abençoe, filha!
Mas não satisfeita eu ainda pedia:
_ Não, mãe, não é essa...
E ela pacientemente me abençoava:
"Que o Senhor te abençoe e guarde.
Que o Senhor, sobre ti, levante o seu rosto,
que Ele tenha misericórdia de ti e te dê a paz".

Aí eu me sentia confiante.
Sentia que, por causa da benção daquela mulher
sempre presente e escolhida por Deus pra ser
MINHA mãe,
o Senhor colocaria a mão no meu queixo,
levantaria a meu rosto, parecendo dizer pra mim
"ergue a sua cabeça, filha minha,
que eu tenho bençãos pra te dar
e vai fazer a sua prova sem medo!..."

E eu ia.
E tudo sempre foi bem.

Eu quero ser parecida com ela.
Quem sabe, MÃE, como ela?
Quem sabe?

Line

Um comentário:

Unknown disse...

Nine, não concordo com a Lara.
Vc não tem dupla personalidade. Tem MÚLTIPLAS! hehehe
Mas agora, falando sério. Amo todas essas Nines que existem em você!
A Nine irmã, a Nine amiga, a Nine confidente, a Nine psicóloga, a Nine mãe (pq mtas vezes vc é meio mãe pra mim, pois briga quando tem que brigar, chama atenção por coisas que às vezes não percebo ou, talvez, NÃO QUEIRA perceber, mas está sempre com a mãozinha lá, segurando a minha, me dando força e coragem pra vencer os desafios, obstáculos e até medos que surgem na minha vida e, ainda, canta ou manda uma musiquinha pra me acalmar). Amo todas as outras que porventura existam (e saibam, leitores... elas existem!).
Se é personalidade múltipla, eu não sei e não quero saber! Desse negócio de Psicologia eu não entendo, mas ela entende (e muuuiiito!). O que interessa é que amo todas elas em uma só: a MINHA irmãmiga Nine!
Bjo.
Sua irmãmiga...
Anne (Lôra).